31 dezembro 2009

E acaba mais um ano sem estatuto para os profissionais do espectáculo e audiovisual

Durante mais de 10 anos promete-se um estatuto para os intermitentes do espectáculo e audiovisual. Depois cria-se um regime de contrato inaceitável, criticado por todos. Reconhece-se então o erro e oferece-se a solução: os omnipresentes recibos verdes enquanto se estuda o problema durante mais 4 anos.


1.Em 2008 o Governo PS aprovou sozinho um regime de contrato de trabalho para os artistas do espectáculo e audiovisual, a Lei 4/2008. Um regime de contrato não aplicável a profissões técnicas e que cria o novo conceito de “empregador intermitente”. Inovação legislativa não nos falta. Depois de os trabalhadores do espectáculo e audiovisual reivindicarem protecção na intermitência - porque trabalham para múltiplas entidades empregadoras, em contratos curtos determinados pela duração da temporada do espectáculo ou da produção do filme e têm que ter tempo para trabalho invisível e individual para ensaios ou investigação – o Governo criou os contratos de trabalho intermitentes e esqueceu a protecção na intermitência. Neste momento a lei prevê que patrões assinem os contratos a termo que quiserem, sucessivamente, sem qualquer limite, atentando mesmo contra os direitos de autor e direitos conexos. Os trabalhadores estão sujeitos ao regime geral. E não há código contributivo que lhes valha.


2.Começa uma nova legislatura e Sócrates, nos breves minutos que dedicou à Cultura no debate do programa do Governo, anuncia que o novo código contributivo dará direito a protecção na saúde e na reforma aos artistas. É mentira. A menos que protecção fosse uma relação ilegal de falso recibo verde, sem regras e nem segurança, com prestações mais pesadas e sem protecção no desemprego. A Lei 4/2008 é má. Mas afirma que há relações laborais quando se contratam “intermitentes” no espectáculo e audiovisual e não apenas prestação de serviços. Esse é um avanço que não podemos deitar fora, ao contrário do que o que Primeiro-ministro pareceu querer dizer ao remeter a protecção dos trabalhadores para o, felizmente agora suspenso, novo código contributivo.


3.A nova Ministra da Cultura vai ao Parlamento dizer que nada disto tem sentido. E que precisa de mais 4 anos para estudar o problema. A cada Governo o seu estudo? A cada Governo a sua desculpa?


O Bloco de Esquerda apresentou na legislatura passada uma proposta que contemplava tanto o regime de contrato como a protecção social. Foi chumbada pela maioria que aprovou a lei 4/2008. Não cruzámos os braços. E por isso apresentámos agora um projecto lei para completar o vazio que entretanto foi criado. Um projecto lei que prevê um regime especial de protecção social para os trabalhadores do espectáculo e do audiovisual; algo tão simples como afirmar que se os contratos são intermitentes também de forma intermitente (intercalada) se terão de contar os períodos de trabalho que asseguram o direito a protecção social, seja na doença ou no desemprego. O próximo, e breve, passo será uma nova proposta de estatuto.

Publicado no esquerda.net

30 dezembro 2009

Crise e Cultura: será que as Indústrias Criativas vão aparecer numa manhã de nevoeiro para nos salvar?

Ao longo de 2009, grupos de pressão europeus de defesa do sector cultural aconselharam os agentes culturais a terem como mote na sua discussão de financiamentos públicos "forget about culture" (esqueçam a cultura), para centrar todo o discurso na importância da Cultura na Economia, Qualificação, Inovação. Ou seja, este não é o tempo para falar da importância da Cultura mas sim para mostrar que é aí que está a saída para a Crise. Terá sentido?

Em Portugal não sabemos bem qual é o impacto da Crise na Cultura. Temos a noção que os profissionais da arte e da cultura vivem pior - não vivemos todos? - e que é provável que algum património não esteja no melhor estado... Talvez demoremos algum tempo a perceber tudo o que estamos a perder, que caminho sem retorno está a levar parte de nós.

E, enquanto quotidianamente vamos sacudindo os males que a Crise provoca na Cultura - e se os podemos sacudir com tanta leveza não nos devemos perguntar se a Cultura terá o devido peso nesse quotidiano? -, responsáveis de instituições culturais públicas e privadas falam das indústrias criativas como quem descobriu a cura para todos os males. Estamos em plena euforia de indústrias criativas (ou melhor, de discurso sobre indústrias criativas). Não é já a Cultura que nos vai salvar, mas - fruto também do "forget about culture"? - as indústrias criativas que nos vão tirar da Crise.

E é este o mais visível impacto da Crise na Cultura. Um país que nunca definiu serviços públicos de cultura, que não tem estatutos profissionais próprios para os trabalhadores do sector cultural e lhes nega protecção social, que não tem práticas de descentralização cultural aprofundadas, em que existem redes de equipamentos culturais que não o são porque não têm programas nem financiamentos, em que há instituições culturais sem qualquer relação com a população que supostamente servem, em que nunca há lugar para programas de promoção e qualificação cultural de médio e longo prazo, em que tudo se mede evento a evento, em que as grandes instituições e os grandes eventos culturais competem pelos mesmos 30% de população potencial público de Cultura e todos parecem esquecer os outros 70% que nunca participam em qualquer actividade cultural, em que o acesso a meios de produção cultural é escassa, ... um país com uma vida cultural tão frágil reage à Crise trocando Cultura por indústrias criativas.

E o que são as indústrias criativas? Entidades de produção altamente qualificadas de... qualquer coisa. São más? Claro que não! Mas substituem a necessidade de serviços públicos em Cultura? Substituem a necessidade de oferta e produção artística plural? Podem existir num meio sem uma vida cultural activa? Onde se geram os profissionais qualificados que alimentam as indústrias criativas? Onde se geram os consumidores para os produtos dessas indústrias? Onde nos levará esta onda suicidária de quem permanentemente espera e reclama frutos de sementes que se recusa a plantar?

O maior desafio em 2010 será, no meio da Crise, lembrarmo-nos por uma vez da Cultura.


06 dezembro 2009

10 Dez. 18h30 Cinema São Jorge: Encontro em defesa dos direitos dos profissionais do espectáculo e do audiovisual

No próximo dia 10 de Dezembro às 18h30 no Cinema São Jorge, em Lisboa, vou apresentar, em nome do Bloco de Esquerda, duas propostas relativas à Protecção Social para os Trabalhadores do Espectáculo e do Audiovisual.

Neste encontro, para o qual se convidam os profissionais deste sector, o Bloco pretende recolher testemunhos e sugestões que contribuam para novos passos legislativos no sentido da criação de um estatuto profissional para o sector.

Com os diplomas que irá apresentar na Assembleia da República o Bloco de Esquerda pretende dar resposta à necessidade urgente de protecção social de todos os profissionais do espectáculo e do audiovisual, nomeadamente criando um regime especial de subsídio de desemprego que corresponda à realidade do trabalho intermitente, sem prejuízo da criação a breve trecho de um verdadeiro estatuto profissional.

Esse estatuto, para o qual se pede a contribuição de todos os profissionais, deverá contemplar não só um regime laboral justo e adequado à realidade do sector, mas também a actualização do enquadramento fiscal da actividade destes profissionais, assim como sistemas de certificação profissional e de classificação de actividades e profissões.

Na anterior legislatura o PS aprovou sozinho a Lei n.º 4/2008, de 7 de Fevereiro que estabelece o regime de contrato para o espectáculo e audiovisual. Esta lei teve forte contestação e mantém tais profissionais do espectáculo e audiovisual na quase total desprotecção social nos momentos em que perdem o rendimento do seu trabalho, como o desemprego, a invalidez, a maternidade ou a doença.

03 dezembro 2009

Anúncio público e pessoal

Com a mesma convicção, independência e solidariedade com que aceitei o convite para ser candidata, decidi agora aderir ao Bloco de Esquerda.