25 maio 2007

O hiper-realismo e os limites orçamentais

Ontem fui ver European House, espectáculo de abertura do FITEI.
Para mim foi um acontecimento, não por ser a abertura de um festival, mas porque ultimamente tenho poucas oportunidades de ir ver seja o que for. Ontem pude ir, estava contente por ter ido e não senti que devia estar a fazer outra coisa qualquer. Só por isso já valeu a pena.
E depois o espectáculo é bom, muito bom. Sem nenhuma ironia digo que é um espectáculo bem feito e pertinente que explora aquele pequeno intervalo nos gestos quotidianos em que a alma transparece. FIquei verde de inveja. Está lá muito do que trabalhámos no 667, por exemplo. A cena do sofá que não chega para todos, o desconforto, o estar pendurado... Mas num registo diferente, claro. No Visões Úteis já sonhámos com registos hiper-realistas, mas nunca tivemos orçamento para tal. E quando não se consegue fazer uma coisa bem, é melhor não fazer. E assim temos adiado muito do que eu ontem vi. Fiquei portanto verde de inveja. Em palco estava o número de intérpretes e o cenário com que imaginei o Mal Vistos. E os meios indespensáveis ao aprofundamento dos desencontros (literais e metafóricos) de 667 ou Cidade dos Diários.
Estou habituada a ir ver teatro construído com disponilidades orçamentais muito diferentes daquelas com que trabalho, mas nunca tinha sentido esta relação tão poderosa entre os meios e a essência do discurso. Senti-me impotente.

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