21 janeiro 2010

Quem comete o crime?

A cada quinze dias tem de se apresentar. Tem de provar que tem tido a conduta correcta e que se tem esforçado para mudar a sua situação. E tem de ter comprovativo de diferentes entidades desse esforço. Se os responsáveis assim o entenderem, podem propor-lhe que trabalhe em prol da comunidade. Não é aconselhável recusar. Quando terminar o seu tempo fará o que bem entender. Cessa a responsabilidade do Estado sobre si.

Este seria um regime duro para um qualquer criminoso sujeito a termo de identidade e residência. Mas não é. Este é o regime de um desempregado. Alguém que trabalhou, contribui para a Segurança Social e, seja por causa da Crise de por uma das muitas crises, perdeu o seu posto de trabalho e se inscreveu num Centro de Emprego.

O Estado, o nosso Estado, trata os desempregados como criminosos. Humilha os trabalhadores e as trabalhadoras no momento em que se encontram mais frágeis. Culpabiliza quem se encontra desempregado por se encontrar nessa situação.

E este é o tratamento reservado a quem tem direito a protecção no desemprego. A estes juntam-se os milhares de trabalhadores e trabalhadoras que não têm quaisquer direitos. Que por muito que trabalhem, e mesmo tendo descontado para a Segurança Social – como tantos e tantas de nós a trabalhar a falso recibo verde -, não chegam sequer a ter subsídio de desemprego.

A estes milhares de pessoas vai-se dizendo que os contratos de trabalho e protecção no desemprego são privilégios e não direitos. Privilégios que uns têm e outros não. Como se a injustiça da miséria de uns fosse a miséria de outros.

São mais de 600 mil os desempregados e desempregadas em Portugal. Mais de 600 mil pessoas humilhadas quotidianamente. Sem sombra de dúvida, uma enorme crueldade… e um barril de pólvora?
publicado no esquerda.net

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