25 maio 2007

As festas fazem bem

"O Porto é uma cidade artística e culturalmente muito dinâmica. Sempre o foi e continua a sê-lo. Aqui se concentram um grande número de importantes criadores e as mais activas escolas artísticas do país.

Mas nos últimos anos a actuação tanto do poder local como do poder central tem contrariado a natural dinâmica da cidade. Ao Estado Central parece não interessar a aposta numa segunda cidade do país realmente interventiva e dinamizadora de desenvolvimento. E o poder autárquico tem claramente avaliado mal a importância da arte e da cultura no desenvolvimento da cidade e do país.

O Porto é a capital da região mais populosa, mas também mais pobre, do país. Tem a obrigação de ser um pólo dinamizador. Arte e cultura são fundamentais à construção da identidade e mundividência de que se faz o desenvolvimento.

A vitalidade artística de uma cidade mede-se pelo confronto entre diversas linguagens artísticas e diferentes gerações de criadores. A identidade constrói-se a cada momento nesse confronto entre o fazemos e o que conhecemos do mundo, entre o que está estabilizado e o que está a dar os primeiros passos, entre o que é maioritário e o que está nas margens. Esquecer qualquer uma destas partes põe o todo em causa.

O Porto tem o material humano e criativo para um confronto fértil, e tem ainda o privilégio de contar com casas de arte e cultura como o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, o Teatro Nacional São João, o Museu Soares dos Reis ou a Casa da Música. O desinvestimento do Ministério da Cultura e da Câmara Municipal do Porto nos criadores e nas estruturas de produção da cidade ameaça um potencial precioso e todo o investimento feito até aqui.

Exige-se uma nova postura ao poder político. E não podemos deixar que os dias difíceis que atravessamos nos desviem do que é essencial: o Porto é um centro de arte e cultura.

O FITEI celebra 30 anos com o melhor da cidade, usando os diferentes palcos para mostrar o muito que por aqui se faz, mas também para mostrar no Porto muito do que se faz no grande território da expressão ibérica. O teatro é a arte da celebração, do debate ao vivo e da fusão artística. E a programação do FITEI conta com uma grande diversidade de propostas que pensam o nosso mundo, reflectem sobre o passado ou projectam o futuro, recorrendo a diferentes linguagens artísticas e envolvendo públicos diversos. Com este FITEI celebramos 30 anos de actividade ininterrupta, celebramos o teatro, celebramos a cidade de Porto.

Sejam bem-vindos ao XXX FITEI."


Mário Moutinho, director do FITEI, ontem, na abertura do festival,
para "romper com este silêncio pálido de rosas de cemitério em que nos encontramos"

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