26 junho 2009

Defender a Cidade; defender o espaço público

A aprovação na reunião de 23 de Junho da Câmara do Porto, com os votos do PSD, CDS e PS, da privatização e da chamada “requalificação” do Pavilhão Rosa Mota é mais um passo na destruição pelo Executivo PSD/CDS, com a cumplicidade do PS, de um património que os transcende e que incumbe à cidade respeitar, preservar e melhorar. Se tal proposta chegar a ser concretizada, verificar-se-á não só uma alteração radical da área circundante do pavilhão (lago e tílias) por força da nova construção para eventos empresariais, como o município do Porto ficará detentor de apenas 20% do capital da nova sociedade gestora. À cidade rouba-se o seu património e espaço público, eliminam-se os seus espaços verdes e alimentam-se negócios, favorecendo privados.

Bastaria, aliás, invocar a lei nº 159/99 (sobre as atribuições e competências das autarquias) para saber que do papel dos órgãos municipais faz parte “o planeamento, a gestão e a realização de investimentos nos seguintes domínios”: espaços verdes, mercados municipais (artº 16º), teatros municipais, património cultural, paisagístico e urbanístico do município, gerir museus, edifícios e sítios classificados, apoiar projectos e agentes culturais não profissionais (artº 20º). E não faltam vozes de autarcas a reclamar mais competências. Mas no município do Porto vive-se a situação espantosa de um Executivo que não só não quer exercer as competências legalmente atribuídas, como as delega, com o apoio do PS, aos interesses particulares.

Motivados pelo exemplo das movimentações cidadãs que impediram a demolição do Bolhão (mais de 50.000 cidadãs e cidadãos subscreveram uma petição ao parlamento), temendo que se concretize a alienação de mais património ainda, os cidadãos e cidadãs do Porto abaixo-assinad@s exigem o fim imediato do processo agora aprovado e a salvaguarda do Pavilhão Rosa Mota e seus jardins como equipamento público para usufruto de tod@s numa cidade ecológica, sustentada e defendida pelo exercício do interesse público. Assine:
http://www.PetitionOnline.com/rosamota/
Assine!

22 junho 2009

Defende a escola pública quem a faz

Passa das onze da noite e os miúdos não querem sair da sala. Têm seis, sete anos. Os pais não parecem preocupados: "Está bem, só mais um bocadinho." E vão ficando.

A escola no último dia de aulas abriu à noite. Entraram pais e filhos. Mostraram canções e "peças de teatro" uns aos outros. Enganaram-se, coraram e riram-se. Uns e outros. Tudo sem playback. Trocaram flores e abraços.

Montaram nas mesas da cantina um jantar festa com o que cada família trouxe de casa. A professora fez sopa na cozinha da escola.

Depois foram para a sala de aula, brincar com o que a professora de ciências tinha preparado. Os últimos a sair da escola já o fizeram no dia seguinte.

Ao longo do ano para muitas das crianças a escola acabou às 15h30, hora de início do ATL. Nunca se tinham cruzado com o professora de ciências, de inglês ou de música. E os pais começam a pensar que se calhar está na altura de mudar.

A professora que organizou tudo é a mesma que, como muitos outros, ao longo do ano fez o milagre do quotidiano. Que trata das papeladas na ausência de pessoal administrativo, que compra resmas de papel do seu bolso, que decora a sala ou tira piolhos das cabeças sem ajuda - a maior injustiça do número tão reduzido de auxiliares é parecer que quase não existem mesmo quando se fartam de trabalhar - que os colegas olham de lado porque decide fazer coisas fora do horário, que simultaneamente luta com os sindicatos contra a avaliação e os sindicatos não deixam avaliar, que ainda não sabe onde estará a trabalhar em Setembro, em que escola deve inscrever o filho, se terá trabalho para um ano ou uns meses,...

As professoras de ciências e de inglês que também ali estão, que também desenharam e criaram esta festa de escola, são pagas à hora, tarde e muito mal, não têm carreira, não têm concurso, não têm nada. São tarefeiras da Câmara. As duas, como todos os outros e como todos os auxiliares na mesma condição, vão acordar sem trabalho e sem direito a nada. Em Setembro logo se vê. Fossem ursos e pudessem hibernar nas férias lectivas...

Conseguisse eu esquecer-me de tudo isto e a festa era perfeita!

15 junho 2009

Irão

Os mesmos senhores que atiram palavras como globalização à cara das pessoas que correm de casa para a escola e para o trabalho com o saco das compras numa mão e os filhos na outra, parecem não perceber o que se passa no Irão. Ou a sua importância.

Como fica quem não fala línguas e não tem tempo para vasculhar blogs? Arre!

Entretanto, para quem tem algum tempo e lê inglês, O Enfado dá um bom guia:
Via Jugular, e em menos de 1 minuto, também cheguei a boas imagens e a uma petição que nos envolve a todos. Quase tudo em português.

09 junho 2009

08 junho 2009

Bloco pelo Porto

Integro como independente a lista do Bloco de Esquerda à Câmara Municipal do Porto. Sou a número dois da lista, a convite do BE e do Teixeira Lopes. Hoje estarei a representar a lista num debate sobre política cultural na Universidade Fernando Pessoa. Já debati muito estas questões, tanto com agentes culturais como dentro do Bloco. Ainda assim, esta será uma estreia.

06 junho 2009

Está na Hora

A União Europeia ao virar da esquina


Na União Europeia multiplicam-se os estudos e declarações sobre a importância da cultura - e, às vezes, da arte - na construção da Europa. A Cultura, dizem-nos, é o caminho para a criação de uma identidade europeia plural e é motor de desenvolvimento. Ainda bem que assim é.

Obviamente importa-nos apontar o dedo ao que não funciona; é essencial num esforço colectivo de cidadania europeia. Mas, e talvez por trabalharmos na Área Metropolitana do Porto e termos aprendido da pior maneira que em cultura se pode andar décadas para trás sem aviso prévio, temos de repetir: ainda bem que no discurso europeu – e em muitas acções – a cultura importa.

Dito isto, avançamos agora para as ideias – e práticas – que nos inquietam.


Inquieta-nos que a cultura – e a arte – ,para serem legitimadas, sejam sempre e inevitavelmente associadas ora às suas potencialidades económicas ora à sua eficácia social.

As indústrias criativas e o turismo não são arte nem resumem o que é cultura. Uma Europa culturalmente dinâmica e artisticamente forte ganhará muito com as indústrias criativas e o turismo? Certamente. Mas instrumentalizar a produção cultural e a criação artística é uma perversão suicida.

As práticas culturais – e artísticas – são essenciais nas políticas de coesão social, de combate à exclusão e de promoção de uma sociedade plural e com direitos. Todos concordaremos. Mas não as substituem. Exigir aos agentes culturais e aos artistas o que os decisores políticos e económicos não fazem e até, nessas exigências, esconder políticas de sinal contrário, é assustador.


Inquieta-nos que os projectos europeus estejam tão distantes do nosso quotidiano. Inquieta-nos não compreender o jargão europeu e que ele exista. Inquieta-nos que nos digam que precisamos de exércitos de mediadores para compreender o mundo em que vivemos. Inquieta-nos a incapacidade de criar mecanismos reais de comunicação.

A mobilidade dos artistas continua a ser tratada apenas como facilitadora do acolhimento de artistas estrangeiros por grande instituições culturais. Não há ainda uma plataforma em que um artista, ou um grupo de artistas, resolva sozinho e facilmente a logística burocrática relativa à sua circulação pela Europa.

A forma como são analisados e avaliados os projectos de financiamento europeu é extraordinariamente opaca. A sua compreensão – e o sucesso das candidaturas – continua a ser propriedade de um grupo restrito de especialistas em projectos europeus.

A União Europeia parece incapaz de tirar partido dos projectos que surgem espontaneamente; só consegue ver os seus objectivos a serem prosseguidos por projectos criados em gabinete para a convencerem disso mesmo. Algures entre as intenções e as decisões perde-se a realidade.


Inquieta-nos que a cooperação europeia seja tão valorizada e nos seja tão complicada.

Não temos fronteiras com três nem com seis países, mas as lógicas do financiamento da cooperação europeia são iguais para nós ou para os belgas. E, na inexistência de programas que apoiem o simples reconhecimento, acabamos quase sempre reféns dos convites dos promotores de países com mais fronteiras.

Temos fronteiras com um outro país europeu. Mas vivemos num país tão centralizado que não conseguimos sequer ligar o Norte à Galiza (para não falar da ligação do país a Lisboa). A decisão dos caminhos da cooperação que nos é permitida, das partilhas transfronteiriças às redes tão queridas de Bruxelas, está concentrada na região que só tem fronteira com o mar.


Acreditamos que as nossas inquietações são armas de construção. Tentaremos ao longo do período eleitoral dar-lhes mais força, discutindo-as com os candidatos portugueses a eurodeputados. Acreditamos que há soluções ao virar da esquina. Resta saber quanto tempo precisaremos para a virar.

04 junho 2009

Vidas

DAVID LYNCH PRESENTS INTERVIEW PROJECT from interview project on Vimeo.


Vem isto a propósito do início deste projecto e de ter percebido hoje que há algumas coincidências entre este projecto e o nosso trabalho no Visões Úteis; afinal vivemos todos o mesmo tempo...

Ainda em Junho o "Vou ao Porto" vai estar na Fnac de Santa Catarina. E depois de em 2001 termos andado Europa fora a perguntar "quem são os outros", este ano e no próximo andaremos pela Praça da Batalha a perguntar ao mundo todo como tem passado.