27 junho 2007

O Rui Rio deu o Rivoli ao La Feria

esquecendo-se que o Rivoli não era seu. Era, é, um Teatro Municipal. Entregue sem concurso público nem consulta pública. Uma vergonha.
Vergonha que aumenta a cada dia que passa. Com a desculpa dos processos em tribunal - que ainda não tiveram nenhum desfecho e portanto não impedem que nada aconteça - não há nenhum contrato entre o município e a empresa que se instalou no Rivoli. O contrato prometido à cidade obrigava, entre outras coisas, a que o Rivoli tivesse as duas salas a funcionar o ano todo. Neste momento, o Rivoli - Teatro Municipal está entregue a uma empresa privada que pode fazer o que bem lhe apetece.
O Rui Rio também faz sempre o que bem lhe apetece.
A cidade é uma chatice...


Adenda:
aqui está uma história do processo do Rivoli em notícias
aqui está um dos mais perigosos inacreditáveis a tornar-se realidade

26 junho 2007

O autarca que queria um concelho mais pequeno

afirmou na televisão, quase chocado, que 60% da programação da área metropolitana era no seu concelho. Que azar! Temos de exportar a Casa da Música para a Matosinhos, Serralves para a Maia, o Teatro Nacional para Gaia e o Coliseu para a Feira. Equilíbrio, senhores. E moderação.

25 junho 2007

Sabemos servir uns comes

A Câmara do Porto oferece um jantar aos membros da Comissão Europeia e do Governo Português no primeiro dia da presidência portuguesa da UE. É bonito. E é um excelente remate para um dia que começa da Casa da Música.
Podemos não ter condições mínimas para a criação artística, podemos não ter sequer um teatro municipal. Mas sabemos servir bem. E somos gratos. Este jantar é também um bonito gesto de agradecimento ao Estado Central, graças ao qual ainda é possível assistir a espectáculos no Porto. Pode investir cada vez menos na criação e produção artísticas no Porto, mas se não fosse ele nem o concerto matinal era possível.
São notícias destas que me inspiram.

20 junho 2007

Até não ficar nada...

Diz o Público que a RTP vai diminuir ainda mais os meios de produção no Porto.
E o que eu ouvi falar do fabuloso Mediapark do Monte da Virgem.
Será a mesma cidade? Será o mesmo país?

18 junho 2007

A intermitência só para empregadores

Foram aprovadas na generalidade pela Assembleia da República três propostas de lei para a criação de um estatuto para os profissionais das artes do espectáculos; uma do governo, uma do PCP e outra do BE. Já aqui escrevi uma ou outra coisa sobre a necessidade do estatuto. Sobre as propostas do PCP e do BE há já um texto da PLATEIA que diz muito do que penso.

Quanto à proposta do governo, devo dizer que é surpreendente e inovadora. Cria todo um novo domínio para conceito de intermitência. E nós todos que julgávamos que intermitente era aquele trabalhador que, por causa da natureza da sua actividade profissional, alterna meses de trabalho com meses de desemprego. Mas afinal intermitentes são as entidades empregadoras. E são elas que precisam da protecção do Estado. Os trabalhadores não.

O projecto do governo nada diz sobre segurança social. Prometem tratar o assunto em breve, mas por agora o estatuto nada diz sobre o assunto. O que é uma primeira pista para se perceber que a intermitência que nos preocupa não é certamente a mesma de que se fala neste documento.
E depois a definição de trabalho intermitente remete para o contrato intermitente. E mais nada. Ou seja, um empregador pode contratar intermitentemente. E isso está tudo muito bem regulamentado. Nos meses em que há trabalho paga X, nos outros 30% desse X, o trabalho noturno é das 0h às 5h, etc., etc., etc.. E claro, como a certificação profissional é facultativa (!), também pode continuar a contratar não certificados a recibo verde e com as regras que bem entender. E pode mesmo, porque nada se diz sobre isso, passar o pessoal do quadro a intermitente sem pestanejar.
Aquilo de os profissionais da arte e do audiovisual alternarem meses de trabalho com meses de formação ou procura de trabalho, isso, nada tem que ver com intermitência. Nem o governo se ocupa desse tipo de pormenores.

Lembra um pouco a (i)moral bafienta das filhas puras e dos filhos que vão às putas.

14 junho 2007

Hoje é dia de não teatro

Esta noite entrarão no Rivoli, pela passadeira vermelha, todos os que querem legitimar a política de Rui Rio. Ou todos os que, desprovidos já de qualquer vestígio de coluna vertebral, tentam apanhar as eventuais ondas de benesses geradas por Rui Rio e pela SIC.
Quem condena activamente a política de Rui Rio protestará frente ao Rivoli.
Quem não quer saber fica em casa. Como sempre.

Uma coisa é certa: ninguém comprou bilhete para ir ao teatro esta noite.
Esta noite, no Rivoli, ninguém vai ao teatro.

13 junho 2007

O Rivoli não é sala de visitas para vips de ocasião. É o teatro municipal do Porto.


Porque nada está esquecido e nada está resolvido, e porque um Teatro Municipal deve ser palco da diversidade da cidade e do mundo e não pode ficar refém de uma agenda pessoal financeiramente extravagante

quinta-feira, dia 14 de Junho, também estamos no Rivoli.

Junto à Praça D. João I, com um R na mão, das 20h30 às 21h30. Nem a chuva nem a tenda vip nos desmobilizam.

Todos os que queiram participar devem dirigir-se às arcadas do Palácio Atlântico, onde os organizadores (identificados com um R branco na roupa) indicam o local onde o protesto acontece.

11 junho 2007

Rivoli - Teatro Municipal

Estamos a meio do ano. No Rivoli, o único Teatro Municipal do Porto, prepara-se a estreia de um musical com uma temporada anunciada de 6 meses. O meio ano de 2007 que falta cumprir. Nos seis meses que já passaram o Rivoli acolheu um outro musical e esteve fechado a maior parte do tempo.

No próximo dia 14 haverá um protesto silencioso frente ao Rivoli. Eu lá estarei, pontualmente às 20h30 e com o meu melhor vestido. Porque o meu protesto cá fora não é menos solene do que a estreia lá dentro.

06 junho 2007

o que é "O Resto do Mundo"?

uma resposta, provavelmente longa demais, a um comentário do Henrique:

1. É um espectáculo de teatro que decorre num táxi. Os espectadores, 3 por sessão, ocupam o banco de trás. O taxista e o passageiro que ocupa o lugar da frente são actores. O táxi faz um percurso de uma hora pela zona oriental do Porto. A viagem começa de dia (20h45) e acaba à noite (21h45). E é isso o espectáculo; há uma banda-sonora a sair do auto-rádio, os actores contam a história, as ruas são o cenário e o pôr-do-sol é o desenho de luz.

2. É um espectáculo de teatro num espaço não-convencional que potencia a imersão do público na história que é narrada. Porque há uma proximidade muito grande entre os espectadores e os intérpretes, porque há a partilha de uma experiência sui generis por um grupo muito restrito de pessoas, porque público e intérpretes partilham uma "pequena fortaleza" que erra no meio do que é desconhecido e, por vezes, assustador. E porque a formatação com que o público está habituado a ver espectáculos ("as pessoas só ouvem o que já sabem" - diz Gregory Motton) não é facilmente aplicável, o que aumenta a disponibilidade com que os espectadores recebem espectáculo.

3. É um objecto que funde realidade e ficção. A realidade é lida com base na ficção e a ficção torna-se parábola graças à realidade. A forma como o público olha os locais que o espectáculo atravessa é condicionada pela ficção criada no interior do táxi. E a história narrada espalha-se para lá das fronteiras de tempo e lugar que descreve porque encontra paralelos no tempo e lugar, aparentemente tão distantes, em que o espectáculo decorre. O taxista liga os dois mundos porque se movimenta na cidade e invoca a personagem que narra a história. E a banda-sonora é a espinha dorsal desta fusão, servindo a história (com os temas musicais e as vozes off que servem a narração) a realidade (com a interferência de sons próprios do local e de depoimentos de habitantes) e a própria fusão (criando sons que ajudam a leitura da realidade perspectivada pela ficção).

4. É uma reflexão sobre o espaço urbano; como nos organizamos, como lidamos com a memória colectiva, como nos reinventamos na polis? No Visões este é um tema recorrente. E a utilização da fusão entre ficção e realidade, e o uso de meios que potenciam a imersão do público no espectáculo, também não é nova. Este espectáculo aparece no seguimento dos audio-walks do Porto e de Parma.
5. É a segunda parte do projecto "A caminho do resto do mundo"; uma visão sobre o nosso tempo e lugar a partir da escrita de Joseph Conrad. A primeira parte foi A Frente do Progresso. Sobre esta "parelha" há já vários textos online. Este é um exemplo.

6. É parte de um trabalho que confronta processos de criação em arte contemporânea com população que normalmente distantes da produção artistica e cujo quotidiano é marcado por fenómenos de exclusão social. Para a criação do espectáculo conversámos com habitantes de Azevedo (a única parte do Porto que fica para lá da circunvalação) e de três bairros sociais do Porto (Lagarteiro, Cerco do Porto e São João de Deus). A ligação à população está a ser feita com a ajuda de assistentes sociais que trabalham nestas zonas. Este trabalho continua até Setembro/Outubro com trabalhos na área da fotografia, vídeo e internet que vão envolver mais directamente os habitantes destas zonas.


01 junho 2007

A eloquência da Cidade

Quando entram no táxi sabem que é um espectáculo com o Porto como cenário. Mas rapidamente esquecem tudo. Há quem não sinta a segurança do espectáculo e tenha medo da cidade. E há quem não acredite que este é só mais um dia na cidade e veja em tudo gestos encenados. Os espectadores do "Resto do Mundo" vivem na pele a fusão entre ficção e realidade. É a eloquência da cidade. Ou será medo? Medo da cidade? Algum medo também desta particular relação com os actores? (só cá estamos nós, sentimos as respirações uns dos outros, nós no banco de trás, eles no banco da frente, tão próximos uns dos outros, nós tão dependentes deles, eles a verem-nos tão bem como nós os vemos a eles) Ou tudo um pouco?

Dizem-me "Sempre quero ver onde é que vocês me levam!", com o tom de quem acrescenta: A mim, que conheço tão bem o Porto. É o "fascínio do abominável" (nas palavras de Marlow), provocado pela certeza de que há uma cidade desconhecida, misturado com a adrenalina da entrega a um objecto que não se controla; são vocês que me levam.

Maio ainda não tinha acabado e o espectáculo estava esgotado até ao fim (em meados de Julho). Que um espectáculo que só pode ser usufruído por três pessoas de cada vez esgote depressa parece normal. Mas a esta antecedência, nesta cidade e para este tipo de objectos, surpreende.