04 outubro 2008

autonomia roubada

de uma caixa de comentários do dactilógrafio
eu acho que têm impacto (as crónicas, as opiniões, os blogues).
(infelizmente) nos dias que correm, a realidade é feita apenas daquilo que os pachecos pereiras, os danieis oliveiras, os rui tavares e por aí fora deste mundo dizem.
o mundo é aquilo de que se fala e não aquilo que se vê.
a estupefacção e a indignação são-no apenas se algum marcelo rebelo de sousa o transmitem. é como se tivéssemos (enquanto sociedade) perdido a capacidade do raciocínio autónomo.
se numa ditadura "antiga" - nos padrões em que as conhecíamos - teríamos de pedir licença para ter uma opinião, hoje em dia temos de esperar pela opinião destas autoridades para a podermos subscrever...

Do arquivo de A Vida Escrita
que conheci graças ao Enfado
O traço mais característico desta escrita – e não só, é o elo de quase todas as conversas e base de trabalhos, arte e pensamento – trata-se do vigor referencialista. Ninguém avança com uma ideia ou descrição de uma simples sensação pessoal sem estar automaticamente a citar, a aludir, a referir. Ninguém convoca um problema sem usar como pretexto para início ou totalidade da argumentação um filme ou um livro. [...] Sempre a mediação, que faz ganhar eco, à frente, como se tivesse mais valor esse conforto da produção de conhecimento/imagem do que o risco da experiência directa que parece desautorizada de falar por si.

E assim se cria um post sobre autonomia através das palavras de outros. Não por acaso.
Também não por acaso as palavras do dactilógrafo são a propósito do silêncio em torno das fraudes do homem-que-diz-logo-é-verdade-que-é-sério-mesmo-não-sendo.

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