22 novembro 2008

Pobreza no Porto

Um trabalho, a não perder, de Pedro Neves no Expresso:



De norte a sul do país multiplicam-se os casos de falta de solidez económica, de depressões associadas a fracas condições de vida, ao estilhaçar do trabalho, à inexistência de cuidados de saúde eficazes ou de medidas estruturais que combatam a pobreza.

É no distrito do Porto que a situação é mais grave. Numa área com cerca de 2,5 milhões de habitantes, há cerca de meio milhão de pessoas a viver na pobreza. [...]

Durante a pesquisa para esta série de pequenos documentários, fui a lugares onde morreu a esperança colectiva, onde há gente viva à beira da morte social. São casos escondidos atrás de muros, de janelas e portas fechadas, de portões ferrugentos, de bairros fechados sobre si mesmos. É gente que tropeçou no entulho e na desilusão, nas privações, perdas, angústias, na dolorosa mudança de hábitos. É gente que foi empurrada dos sonhos para o chão. São rostos que encaram a vida como um castigo, actores sociais despidos de sucesso material. São olhares cansados de tanta não sorte, porque não se pode falar de má sorte quando nunca se entendeu o significado da palavra.

Podia - e pode - acontecer a qualquer um de nós. Bastava-nos ter nascido ou crescido num ambiente desfavorável ou que, num determinado momento, a vida tivesse dado outras voltas. Por vezes, é um único acontecimento que desencadeia uma série de reacções que provocam uma drástica mudança de vida: um filho que se tornou toxicodependente, uma mãe que adoeceu, um pai que morreu, uma família analfabeta que nunca se preocupou ou teve condições para educar, um despedimento que se tornou crónico, uma depressão que nunca se tratou.


Via a Baixa do Porto, graças a quem também fiquei a conhecer este belíssimo artigo de outro extremo da vida.

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