10 julho 2009

Bom Sucesso

O actual executivo da Câmara Municipal do Porto continua a demitir-se de fazer aquilo para que foi eleito - administrar e cuidar da Cidade do Porto - e prossegue a sua política de entregar o que é de todos aos privados sem qualquer consideração por quem a habita.

Todos os dias este executivo, com o silêncio cúmplice do PS, mata mais um local de vida da cidade do Porto. Todos os dias atenta contra a felicidade quotidiana de quem aqui vive. Todos os dias trabalha para a degradação do colectivo para depois vender o que a cidade tem de melhor aos negócios privados.

Desta vez é o Mercado do Bom Sucesso. No dia 1 de Julho foi anunciado publicamente pela Câmara Municipal do Porto uma conversão do espaço que passa pela sua entrega a um promotor privado que fará do edifício um hotel low-cost, escritórios e estacionamento mantendo apenas umas poucas lojas em volta.

A história não é nova; ao longo dos anos investe-se na degradação do local público e depois apresenta-se como única solução a sua entrega aos negócios privados. É a estratégia usada com o Rivoli, o Pavilhão Rosa Mota, O Mercado do Bolhão... Infelizmente já todos a conhecemos bem demais.

O Mercado do Bom Sucesso não tem obras de recuperação há já vários anos - o actual executivo nem sequer se deu ao trabalho de concorrer aos fundos do QREN para a reabilitação de um património que está em vias de classificação -, sofre a concorrência desleal de um mercado ilegal que todas as madrugadas funciona mesmo ao lado sem que ninguém o impeça e há já vários anos que não são emitidas novas licenças - quando algum vendedor se reforma o seu espaço fica fechado, mesmo havendo novos interessados, aumentando assim o ar de abandono do local.

Querem fazer-nos acreditar agora que a solução é um negócio em que um privado desalojará os vendedores, pagando a indeminização que a sua generosidade entender, e que, em troca, nada pagará de renda à autarquia durante quase 4 décadas. Com base no abandono fabricado impõe-se agora à cidade um negócio opaco e que a priva do seu património.

Mas está o Mercado irremediavelmente abandonado pela população? Não, não está. Os vendedores - que o executivo camarário quer agora convencer de que a nada têm direito - pagam renda mensalmente e fazem lá o seu comércio. Nada parou e continua a haver interessados em vender e compar frescos naquele espaço.

E pensemos um pouco. O Mercado do Bom Sucesso fica no centro do Porto. À sua porta passa quotidianamente uma multidão de gente que vive e trabalha na Cidade, ou que a visita, e cujo percurso está ligado aos escritórios, lojas, faculdades, hotéis e transportes que o rodeiam. Numa cidade moderna um mercado de frescos é um ponto vital de cruzamento diário, o ponto de acesso aos produtos frescos locais que é também um local de animação da cidade. Por toda a Europa os mercados são locais festivos; como pode o Mercado do Bom Sucesso, localizado na cidade portuguesa com mais escolas artísticas e a dois passos da Casa da Música, ficar fora desse modelo? A cidade do Porto é rodeada de hortas; como podemos negar os pontos de troca entre produtores e consumidores dos produtos frescos de produção local, os nutricional e ambientalmente mais desejáveis?

O Mercado do Bom Sucesso precisa de intervenção, sim. Precisa de condições para cargas e descargas, precisa de obras de requalificação, precisa de actividades complementares à venda de frescos, como a venda de artesanato e a animação cultural. O edifício tem o espaço ideal para combinar um grande mercado de frescos com serviços complementares, comércio de artesanato tradicional e urbano, espaços permanentes de animação com música, artes performativas e artes de rua.

O que o Mercado do Bom Sucesso não precisa é de deixar de ser um Mercado. O que a cidade não pode é dar-se ao luxo de perder mais este espaço público, urbano, vivo, popular e cultural.

Escrito na sequência da visita de dia 7 e publicado hoje no esquerda.net

1 comentário:

Olhar o mar disse...

É bem verdade que a insensibilidade dos politicos destroiem cidades, destroiem harmonias e vontades.
Os espaços verdes, os sitios de lazer hoje tão apregoados não passam de arremessos para companhas de politicos que quando se sentam no poder delas se esqueças e a elas lhes faltam.
A preservação dos espaços e sobretudo da identidades das pessoas e das gentes é um facto mas é preciso reeducar e aprender a viver e conviver com a cidade, não se tratando apenas de manter intactos alguns espaços mas sobretudo quem os aproveita ser sensivel a ponto de os querer e tratar como seus.
Desculpe, estou a divagar da primeira vez que aqui chego a este blog, já nem sei como, mas felicito -a pela luta de querer uma vida melhor para todos.
Um abraço e bons debates
olharomar/rosadesangue