Um voto de pesar pelo falecimento de José Saramago é também um voto de pesar pela nossa imensa perda.
Saramago ofereceu-nos a força mais pura da criação, reflectindo o mundo para nos devolver um outro, renovado e humano, nas suas limitações e deslumbramentos.
Nos livros e na vida, nas palavras, em suma, José Saramago confrontou-se e confrontou-nos com a tragédia de existir, com o amor a ditar-nos a vida, com as marcas que a História feita por ditadores minúsculos deixou em homens e mulheres aos quais a História nunca deu rosto ou tamanho. E essa façanha implicou também olhar deus de frente, encarar de frente o país e a sua mesquinhez, mas também a sua grandeza.
O que ele disse, mais ninguém escreveria.
E essa coragem deve também agora ser celebrada, para que os tiranetes sejam cada vez menos. Para que a tacanhez seja vencida em nome do espírito livre e de um país que seja mais do que uma organização económica e que não renegue o seu povo, a sua história, a sua cultura. Um país que, agora ainda mais, deverá fazer por demonstrar que mereceu esta obra de um só homem sobre muito mais que um povo só.
Porque Saramago que, soube quebrar todas as fronteiras, fronteiras de língua e de país pelo enorme reconhecimento internacional que teve, e fronteiras de linguagens e imaginários, torna-nos mais e mais acompanhados. Hoje são parte do que somos todos – e tantos que somos - o amor de Baltazar e Blimunda, uma península feita jangada, um país de morte suspensa, um deus à semelhança do homem.
Quem nos dera saber contar uma vida assim.
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