porque mesmo que seja batota, porque somos amigos e trabalhamos muitas vezes juntos e para o mesmo, é uma alegria poder debater crítica publicamente (ou como se fosse, nestes nosssos cantos visistados por amigos). Faz parte do meu imaginário e é uma daquelas raras coisas que provoca saudades dos tempos que nunca se viveu.
Diz o Nuno que sente falta de tensão crescente entre os dois palermas da "Frente do Progresso". Algo que não existe no conto, mas que a transposição para teatro exige. O que está aqui em causa é saber como é que sujeitamos Kayerts e Carlier ao aborrecimento, sem infligir a mesma tortura ao público. Estamos de acordo.
Eu não faço ideia se o público fica aborrecido. Acredito que fique. E tenho pena. Honestamente não me parece que cruzemos a linha entre o tempo de instalação das diferentes partes e o tempo de fuga da atenção do público. Mas, sabemos bem, quem acompanha o crescimento diário não tem a visão mais nítida.
Vamos então ao problema da tensão entre os dois, ou melhor, às razões que me fazem acreditar que não é possível instalá-la realmente antes dos 15 minutos finais. Que são só duas e bastantes simples.
1. Se a tensão existisse antes os 15 minutos finais não seriam o fim de que gostaste. O final resulta, no espectáculo como no conto, porque explode onde menos se espera.
2. Se os nossos palermas vivessem em tensão não teriam a total inércia que os caracteriza. A tensão exige uma energia no relacionamento que lhes está vedada. Existisse essa tensão e consequente energia e a história seria necessariamente outra.
Parece-me no entanto que há um outro caminho onde talvez fosse possível encontrar o "clique" de que sentes falta. Os indícios da tragédia não podiam estar na tensão, mas podiam/deviam estar nas diferenças que caracterizam a dupla. Carlier e Kayerts são iguais porque filhos de estruturas modeladoras da civilização. Mas são também diferentes: temos um militar e um administrativo. Aquilo que os une é a solidão e a estupidez. No seu "ambiente natural" nunca se juntariam. No espectáculo esta incompreensão permanente entre os dois lados de uma mesma moeda está presente. Acredito agora que não tem a leitura que desejávamos. A subtileza tem coisas boas e más.
E tenho de ficar por aqui. Apetecia-me falar do narrador - nosso e do Conrad, neste espectáculo e no próximo. Mas, como sempre, já devia estar a fazer outra coisa. Tentarei voltar.
Diz o Nuno que sente falta de tensão crescente entre os dois palermas da "Frente do Progresso". Algo que não existe no conto, mas que a transposição para teatro exige. O que está aqui em causa é saber como é que sujeitamos Kayerts e Carlier ao aborrecimento, sem infligir a mesma tortura ao público. Estamos de acordo.
Eu não faço ideia se o público fica aborrecido. Acredito que fique. E tenho pena. Honestamente não me parece que cruzemos a linha entre o tempo de instalação das diferentes partes e o tempo de fuga da atenção do público. Mas, sabemos bem, quem acompanha o crescimento diário não tem a visão mais nítida.
Vamos então ao problema da tensão entre os dois, ou melhor, às razões que me fazem acreditar que não é possível instalá-la realmente antes dos 15 minutos finais. Que são só duas e bastantes simples.
1. Se a tensão existisse antes os 15 minutos finais não seriam o fim de que gostaste. O final resulta, no espectáculo como no conto, porque explode onde menos se espera.
2. Se os nossos palermas vivessem em tensão não teriam a total inércia que os caracteriza. A tensão exige uma energia no relacionamento que lhes está vedada. Existisse essa tensão e consequente energia e a história seria necessariamente outra.
Parece-me no entanto que há um outro caminho onde talvez fosse possível encontrar o "clique" de que sentes falta. Os indícios da tragédia não podiam estar na tensão, mas podiam/deviam estar nas diferenças que caracterizam a dupla. Carlier e Kayerts são iguais porque filhos de estruturas modeladoras da civilização. Mas são também diferentes: temos um militar e um administrativo. Aquilo que os une é a solidão e a estupidez. No seu "ambiente natural" nunca se juntariam. No espectáculo esta incompreensão permanente entre os dois lados de uma mesma moeda está presente. Acredito agora que não tem a leitura que desejávamos. A subtileza tem coisas boas e más.
E tenho de ficar por aqui. Apetecia-me falar do narrador - nosso e do Conrad, neste espectáculo e no próximo. Mas, como sempre, já devia estar a fazer outra coisa. Tentarei voltar.
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