17 julho 2007

São João de Deus

Já não se percebe sequer onde estavam as casas. A cratera de terra é grande, mas não parece grande suficiente para os blocos de prédios que lá estavam ainda há pouco. Passa um pai adolescente, moreno quase preto, com a filha lourinha e bebé ao colo. Sentem-se olhos por todo o lado. Adolescentes com telemóveis de última geração nas mãoes e sapatilhas de marca nos pés vigiam todos os nossos movimentos. O nosso guia vive aqui há 38 anos. Tantos quantos tem de vida. Nasceu no Hospital Santo António. A casa é logo ali atrás da escola. Os cães vadios ladram e aproximam-se. Mas não nos seguem. Um corpo de mulher escanzelado segura-se a um muro. Quase cai. O prédio é já ali. Um homem de cara chupada e movimentos furtivos corre para dentro de casa com os braços cheios de havaianas. Tem um olhar faminto e desesperado. Por um segundo imaginamo-lo a comer as sandálias. Os miúdos brincam com os cães vadios. Improvisam trelas com cordas. Há asfalto e pó por onde brincar. O prédio está velho, a cair de podre. É feio. Sujo. Tenso. Um casal de idade passeia tranquilamente a neta.

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