17 julho 2007

São Pedro de Azevedo II

- Eu trabalhava no Mário Navega. E aquilo não se podia faltar. Os aumentos eram de um tostão ou dois à hora, mas sem faltar nunca.
- Andávamos sempre a perguntar ao encarregado se estava tudo limpo, a ver se nesse ano podíamos ter uns diazitos de férias. Era o amarelo.
- Chamavam-lhe o amarelo.
- Já morreu. Bons tempos.
- Era difícil. Às vezes nem havia o que comer.
- Peixe do rio e dois tostões de pão. Éramos cinco filhos lá em casa.
- Às vezes era ir ver as horas a campanhã e voltar para a fábrica a beber água.
- Bons tempos.
- E eu por causa de dois tostões da hora andava a perder o abono de família. Então um dia vejo o Navega a entrar na fábrica. Eu estava na minha máquina, assim na linha, o encarregado lá na frente.
- Ele nunca nos deixava falar ao patrão.
- Pois. Mas eu vi-o e tinha de ser. Desliguei a máquina - senão ele dizia logo: "já para o seu posto", desliguei a máquina e disse-lhe: Sr. Navega por causa de dois tostões à hora estou a perder no abono de famĺia. Tinha três filhos. Ele só perguntou: qual é o seu número? Não me prometeu nada, não disse nada. Mas no final da semana já recebi o abono. Apontou o número num papel ou numa caixa de fósforos...
- Eu era o 185.
- 253.

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