13 janeiro 2008

Elogios na mudança de ano: penetras, "os melhores do ano" e plágio

Dezembro de 2007, em Aveiro. Apresentávamos o Rei de Inglaterra a grupos organizados de escolas. No início de uma das sessões um professor diz-me: "Aqueles dois não vieram connosco. São de outra escola". E lá vou eu saber de onde apareceu o casal de 15 anos que se meteu na fila de entrada do espectáculo. São de uma escola que não marcou nenhum grupo. Eles estão corados e eu mando-os entrar: "Falamos no fim." Assistem ao espectáculo e à conversa final. Tentam ser discretos, mas o olhar compenetrado logo na primeira fila não passa desapercebido. "No fim falamos". Quando me aproximo, voltam a corar. É bastante óbvio que esperavam poder ver o espectáculo sem pagar os três euros de bilhete e que a denúncia lhes estragou o plano. Eu não sei que faça. Estou tão contente por ter "penetras" num espectáculo para escolas.
E então decido fazer de parva, ou de esquecida. "É só para vos entregar o CD com o dossier do professor, já que não veio nenhum grupo da vossa escola. Até à próxima." Eles pegam na mochila e saem rapidamente com o sorriso cúmplice de quem acabou de roubar um doce.

Fim do ano. Os jornais publicam "os melhores do ano". O Y classifica "O Resto do Mundo" em 5º lugar no ranking dos melhores espectáculos de teatro vistos em Portugal ao longo do ano. Recebo sms de quem viu e de quem não viu.

Janeiro de 2008. Recebo um mail que divulga um audio-walk em Coimbra. "Que engraçado! Um audio-walk!" Começo a ler o material de divulgação. A ficha artística tem as mesmas categorias que nós usámos no "Coma Profundo". O que nós discutimos para chegar àquelas categorias! E olha, a explicação do que é um audio-walk também é parecida com a nossa! E também têm um guia! E o nosso nome não aparece em lado nenhum, nem o da Janet Cardiff! Nem o de referência nenhuma! Olha! Se calhar apareceu-lhes em sonho o Coma Profundo. O Errare ou o trabalho da Janet, não. É pena. Teriam tido mais opções...

Pergunto-me muitas vezes se vivo em redoma. A falar de coisas que não dizem nada a quase ninguém, ouvidas apenas por quem pensa exactamente da mesma maneira, a trabalhar meses numa ideia que morre pouco depois da exposição ao sol. Não é um problema com solução. É simplesmente a vida que escolhi. Esta é uma das angústias de que se constrói. E, inegavelmente, os elogios são uma parte importante na balança.

A lista do Y foi, formal e institucionalmente, o elogio mais importante. Mas o elogio dos penetras, dois desconhecidos com metade da minha idade, foi o maior elogio. Bate até o plágio... porque a irritação provocada pela estupidez apaga inevitavelmente uma boa parte do enorme orgulho de ser referência para outros.

Adenda: o João e o Nuno são mais rápidos do que eu. E alguém os deve ter lido. Reparo agora que as informações do blog são já diferentes das do mail de 4 de Janeiro. Aparece a referência à Janett Cardiff e desapareceu a bonita categoria "documentação geográfica".

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