15 março 2009

Cultura e poder local

O que me parece essencial quando se fala de politicas culturais é a necessidade de se encarar a população não como mero receptor e público de cultura, mas como promotor. E este é um princípio que obriga que se de derrubem os tradicionais muros entre património e criação, entre arte e expressões culturais populares, entre escola e equipamentos culturais. Derrubar muros que não significa, pelo contrário, misturar conceitos ou negar as diferenças profundas de missão e objectivos de cada uma das áreas. Significa sim criar canais de comunicação largos e consequentes.

Às autarquias cabe acima de tudo criar as condições de funcionamento das redes e parcerias nestas diferentes áreas e entre elas. Para tal necessitam de ter equipamentos dimensionados à escala do município - sendo naturalmente estratégicos e essenciais os teatros (centros culturais) municipais, as bibliotecas municipais e os museus municipais - e de criar os canais de comunicação dos seus equipamentos com cada um dos seus locais (a escola, as associações recreativas e culturais, as juntas de freguesia, as empresas culturais, os espaços de cultura informais) e com os resto do pais (teatros e museus nacionais, redes regionais e nacionais, regiões de turismo, diferentes ministérios).

O que não cabe à autarquia é construir uma cidade sem os seus habitantes; programar para a promoção politica ou turística, importar sem nunca exportar, não conhecer e não dar espaço à população… O que não cabe a nenhum poder é tratar a cultura como sala de visitas de ocasião.

Os perigos ultrapassam-se se as missões e os objectivos dos equipamentos e instituições culturais forem claros e acompanhados de orçamentos adequados. E ultrapassam-se com uma população atenta e exigente.

A vida cultural da cidade é um espaço de acesso universal, onde todos têm oportunidades de intervenção e fruição, onde os equipamentos culturais são visíveis, convidativos e têm preços e horários que servem todos.

Uma cidade é um espaço de encontro em constante evolução. Quanto mais activa for a cidade na dinamização da sua vida cultural, mais capaz será de se reinventar e de agir localmente sobre o global.

A conferência de ontem organizada pelo Bloco de Esquerda de Aveiro sobre política cultural foi dominada por quatro temas trazidos pela audiência (muito participativa): “que arte e para quem?” (muito em torno do exemplo do Rivoli; não há dúvida que Aveiro e Porto são cidades vizinhas), “qual a influência das politicas de urbanismo na dinâmica cultural?” (o tema menos referido dos quatro), “o que distingue a direita da esquerda quando se fala de cultura?” e “qual o papel do Bloco de Esquerda”?

Tentarei, mas não prometo, passar a escrito as notas sobre os quatro temas.

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