03 janeiro 2010

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8 de Janeiro será um dia muito difícil e estou cansada de ler textos deliberadamente confusos sobre o que está em causa. Sejamos claros:

Neste momento a legislação portuguesa relativa à adopção não discrimina com base na orientação sexual. Legislar, como o BE propõe, apenas para terminar com a discriminação no acesso ao casamento de casais compostos por duas pessoas do mesmo sexo não é possibilitar a adopção. (Nem sequer se aborda a parentalidade, questão mais vasta do que só a adopção). É simplesmente não impedir o que hoje já é possível; é não recuar no tempo; é não criar uma discriminação onde ela não existe. Associar o problema da adopção ao do casamento é dar armas aos preconceitos; na adopção não há discriminação. No casamento ainda há.

A proposta do governo PS, que ao mesmo tempo que acaba com a discriminação no acesso ao casamento cria uma nova discriminação no que à adopção diz respeito, não se limita a fasear acesso a direitos - o que quer que isso seja - mas dá também guarida a preconceitos homofóbicos preocupados em proteger as crianças das "famílias anormais".

Sei que há quem acredite sinceramente que este é um recuo táctico necessário; respeito quem assim pensa. Mas que a sua argumentação seja deliberadamente confusa entristece-me muito... e não ajuda nada aos difíceis equilíbrios que teremos todos de saber encontrar.

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