30 agosto 2008

Socialismo 2008 - IV

Pensemos num casal com dois filhos menores em que os dois trabalham e ganham, cada um, um salário 840 euros mensais. São uma família normal, com salário médio, que paga impostos, casa, carro, seguros. E depois de pagarem as contas todas ficam com 600 euros para roupa, comida, escola, desporto, arte. Se forem os 4 uma vez por mês ver um espectáculo gastam 50 euros em bilhetes; mais de 8% do orçamento disponível para todo o mês. Se os filhos frequentarem aulas de uma qualquer disciplina artística (o que, regra geral, obriga a recorrer a instituições privadas), gastam em arte mais 100 euros por mês; quase 17% do orçamento disponível. É normal exigir a uma família com este tipo de rendimentos - o rendimento médio em Portugal - que, para ter direito a alguma participação na vida cultural do seu país, gaste um quarto do seu orçamento disponível?

É claro que este é um tema directamente relacionado com os paradigmas de educação artística e de financiamento das artes. Mas, seguindo o raciocínio dos gestos quotidianos e acreditando que não há já dúvidas sobre a importância do acesso à arte e da importância da participação na vida cultural (aqui a “Comunicação sobre uma agenda europeia para a cultura num mundo globalizado”), que mecanismos existem para facilitar o acesso à arte gratuito ou a preços reduzidos?

Os museus têm dias e/ou horários de acesso gratuito e muitas salas de espectáculo têm bilhetes mais baratos para grupos ou famílias. São programas tímidos demais, é certo. Mas, alguém sabe dizer exactamente quando e como é que isso funciona? Onde está anunciado?

Naturalmente, uma pessoa esforçada, que navegue pelos sites todos, leia todos os programas e vá às bilheteiras perguntar, acaba por descobrir. Mas será normal? Uma pessoa que trabalha oito horas por dia, cuida dos filhos, trata das inevitáveis tarefas da casa, deveria saber quando ir ver uma exposição ou um espectáculo, por um preço que possa pagar, sem ter de perder horas a procurar. Ou mesmo, saber que no dia tal tem acesso livre e por isso planear ir, nunca o fazer, e, finalmente, num mês que até correu bem, ir num dia normal e pagar o seu bilhete. Porque o desejo alimenta-se.

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