29 agosto 2008

Socialismo 2008 - III

Qual é a importância das instituições culturais no desenho das nossas cidades? Os equipamentos culturais são fáceis de encontrar? São bem servidos por transportes públicos? Qual é a sua visibilidade, e a da sua programação, na vida quotidiana?


A cultura, e as artes, têm vindo a ganhar espaço no discurso político (o que, não é demais lembrar, não tem tido qualquer correspondência na importância dada à cultura, e às artes, nas políticas e orçamentos). Não há eleição autárquica em que não se fale da importância da cultura, e das artes - mesmo que, como no caso bizarro do Porto, seja para hostilizar as instituições culturais existentes - e, periodicamente, são divulgam estudos e relatórios, europeus e nacionais, sobre a importância da cultura na economia e desenvolvimento das cidades (aqui e aqui estão exemplos recentes). Tudo isto poder-nos-ia levar a acreditar que os equipamentos culturais assumem um papel central na vida das cidades. Mas não é assim.

Inexplicavelmente, na grande maioria das cidades, encontrar um teatro municipal é tarefa árdua. Nas circulares e vias rápidas que cercam as nossas cidades é usual encontrar placas com a indicação "centro comercial", mas "centro cultural" nem por isso. E uma vez encontrado o teatro também não é certo que se perceba a sua programação; nem sempre há informação na fachada, nem sempre está aberto, nem sempre se percebe muito bem onde é a porta...

Também inexplicavelmente encontramos nas nossas caixas de correio informação sobre todas as promoções das superfícies comerciais mas nenhuma sobre a programação dos eventos culturais. Poder-se-á dizer que isso acontece porque as superfícies comerciais têm uma capacidade de investimento em publicidade que os equipamentos - ou/e as cidades - não têm, mas dificilmente se pode aceitar, acreditando nos discursos e nos estudos, que este seja um problema inultrapassável. O que dizer , por exemplo, das autarquias que encontram recursos para distribuir gratuitamente revistas luxuosas que tudo dizem sobre as iniciativas do sr. presidente e nada sobre a programação dos equipamentos culturais?

As redes de transportes públicos também não ajudam; são normalmente planeadas numa lógica pendular casa/trabalho que exclui a fruição artística. E por isso não são raros os casos em que uma sala de espectáculos não é servida por nenhum transporte público à hora em que os espectáculos terminam. E por isso é raro encontrar na rede de transportes públicos indicações e ligações a equipamentos culturais. Tanto em Lisboa como no Porto há estações de metro ligadas directamente a centros comerciais mas quem está na estação dos Aliados no Porto não tem qualquer indicação que o teatro Rivoli - que já foi municipal e espere-se volte a ser - é logo ali ao lado.

É essencial pôr a vida cultural da cidade no quotidiano dos seus habitantes para que esta seja viva e vivida. Antes de depositar o dinheiro no banco X vi o seu nome em todos os outdoors da paragem de autocarro e vi os seus produtos financeiros anunciados em todas as suas montras. Antes de entrar na sala de espectáculos também preciso de ver o seu nome todos os dias, de passar todos os dias pelas placas que me asseguram que o encontro facilmente, de ver a sua programação e pensar muitas vezes "gostava de ver aquilo". É preciso que faça parte da minha vida mesmo antes de lá entrar. As necessidades, como todos sabemos, criam-se.

Sem comentários: